terça-feira, 16 de outubro de 2007

Uma Carta Dedicada

Recordo-me, recordo-nos...
Recordo um jardim onde percorria cada ponto, cada espaço com o olhar e observava tudo à minha volta como se cada flor, cada árvore, cada animal fossem únicas.
Recordo os cheiros de Lisboa e de quando a minha avó me vinha buscar à escola e íamos comprar milho para dar às pombas na Praça da Figueira.
Recordo a minha mãe e o seu sorriso quando às vezes nos olha e nos vê como as crianças que um dia fomos e das suas mãos a amaciarem-me o cabelo.
Recordo o meu pai com o seu típico sorriso e os olhos distantes, das lágrimas após tantas discussões e do abraço final de tréguas.
Recordo o meu avô paterno com a sua mão fechada revoltado com o país a falar constantemente de política e da minha avó a chorar por ele.
Recordo o meu irmão com as infinitas discussões que não davam em nada e dos seus olhos a pedirem uns ouvidos só mesmo para os ter e sentir que é ouvido.
Recordo a minha avó materna, do doce olhar, do sorriso ao falar de deus, ao falar da vida e do sentimento de paz que me transmitia a cada palavra.
Recordo o meu avô paterno, da sua constante má disposição, da cara zangada e do esforço que às vezes fazia para não esboçar um sorriso depois de eu me rir dele.
Recordo-me da praia em Sintra, do cheiro a mar, das brincadeiras, da felicidade e da tristeza, de tudo o que faz parte da família.
Recordo-nos... E é com essa recordação que vivo e é com ela que choro e sorrio e é dela que retiro amor.

Sara Almeida

*Este texto já tinha sido publicado no outro blog mas agora faz mais sentido mostrá-lo novamente... Foi escrito no dia 10.07.06.

3 comentários:

Magnólia disse...

Um texto lindo Sara! Retratas a tua familia em todos os seus aspectos e essencialmente falas de amor ,o ingrediente essencial para vivermos bem. Tambem dizes que as pessoas que nos são mais queridas por vezes não são perfeitas mas acho que até isso tu compreendes muito bem...recordar é viver o presente sempre com amor acrescido.
Um beijo
M

Pedro Arnaut disse...

Retribuo o comment que deixaste no meu blog. O teu é bem mais enigmático, negro e poético. Gostei do blog e gostei deste post em particular. E, já agora, gosto de grande parte das bandas/artistas que guardas na secção "sons". :)

Beijo do colega ;)

Angelina Nicolau disse...

Your words run deep with emotion, truth, and human thought. You understanding and tolerance is seamless, compassionate, and loving. Brilliant.

Beijo,
Angelina